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10 de abril de 2019

Mulheres carecas: raspar os cabelos é um ato de transgressão?

Cabelos compridos são considerados um símbolo da feminilidade. Associados à juventude e virgindade, as meninas logo cedo tem contato com as histórias de princesas e donzelas de contos de fadas com longos cabelos. Em algumas culturas, o cabelo é tão poderoso que deve ser coberto em público e só revelado em aposentos privados por ser forte símbolo de sedução. 

A cantora Sinead O'Connor

Quando falamos em cabelos mais curtos logo vem à mente as melindrosas dos anos 1920, símbolos de independência e sexualidade feminina. Outra época em que ficaram muito em voga foi na década de 1960, quem não lembra dos cortes de Vidal Sassoon responsável pelos cabelos de  Mary Quant? E de Mia Farrow no filme "O Bebê de Rosemary" (1968)?
Na década de 1980 quando a mulher buscava cargos executivos e disputava mano a mano com os homens, os curtos são associados às mulheres independentes e ousadas. Grace Jones é um dos ícones do período e é dela a frase: "Minha cabeça raspada me faz parecer mais abstrata, menos presa a uma raça específica ou sexo ou tribo."

Garotas no festival Afropunk

Ainda no fim daquela década temos Sinead O'Connor que, dizem, raspou os cabelos após os executivos de sua gravadora pedirem para ela adotar um look mais suave e sexualizado, com saias curtas e cabelos longos. Partindo dessa narrativa, é de se supor que ela teria se recusado a ser parte de uma fantasia masculina.

Sigourney Weaver em "Alien, A Ressurreição" (1992), reforça a ideia de mulher que adquire força e Natalie Portman em "V de Vingança" (2005) tem sua cabeça raspada por um motivo oposto: um ato de violência no momento que é transformada em prisioneira. A atriz revelou em entrevistas que após o término das filmagens manteve os cabelos curtos por um período por ter gostado do resultado, revelando que apesar de ter raspado pela personagem foi uma escolha que ela estava feliz em ter feito.


Fonte: Tokyo Fashion

Conversei com algumas meninas que rasparam a cabeça para saber um pouquinho mais sobre suas motivações e experiências. Percebi que a escolha não se limita a estilo, mas principalmente a uma sensação de liberdade e desapego às regras sociais, desconstruindo uma feminilidade construída na sociedade patriarcal, como bem dito por Iracema Doge, de 23 anos dona do canal Calabouço do Thexuga:
"Tudo começou no meu nascimento, assim que o gênero feminino foi designado para minha estrutura, ao nascer nem sabia que já tinha toda um propósito a servir, tinha regras a seguir e tudo isso nem se quer ter consciência do que estava acontecendo, crescemos em uma sociedade patriarcal que dita exatamente como devemos ser e agir antes mesmo de conseguir ter consciência disso. Ao decorrer do tempo isso foi começando a ficar mais nítido em meu cotidiano não só em questão de comportamento, mas também em como eu deveria me sentir. Quando tive a oportunidade de escolher como eu deveria me sentir, comportar e vestir, comecei a ter questionamentos sobre o porquê deveria seguir um padrão que foi estipulado a mim sem nem se quer pedir a minha permissão."

A mulher de cabelos longos como um padrão ideal de beleza ainda é forte em nossa cultura. Cortar os cabelos - mesmo que seja só as pontas - pode provocar arrepios de terror em algumas garotas! Por isso, raspar a cabeça ainda é considerado uma representação do inconformismo relativo às noções tradicionais de feminilidade impostas pelo patriarcado e suas definições de gênero. É um ato político.

Dentre todas estas questões, podem passar despercebidos pensamentos que são reproduzidos no passar de gerações: a mulher que "não cuida do cabelo", a que "não tem os cabelos bonitos" é criticada, demonstrando a exigência enraizada de ter de estar sempre perfeita aos olhos (e julgamentos) sociais. Cuidar de cabelo toma tempo e cansa sim! E cansa mais ainda se a mulher faz isso como obrigação para não ser considerada desleixada. 

As subculturas não estão livres destas exigências, já que cada uma delas também tem um ideal de beleza, sendo porém espaços onde a abertura a quebra de padrões é igualmente aceita, como segue me contando Iracema Doge, que desde muito nova se interessou por cultura alternativa especialmente a gótica, da qual passou a fazer parte e onde relata que:


"Adentrando cada vez mais na cena gótica, tive o desprazer de ainda me sentir submersa nas estruturas colossais do patriarcado, senti que ali mesmo ainda tinha resquícios de atingir certos padrões um exemplo disso é que neste processo todo eu ainda usava cabelo longo de franja lisa, uma característica que ainda era um padrão visto de fora da cena alternativa para o meio da subcultura gótica, esse padrão me incomodava não só nessas circunstâncias mas senti que isso fosse um reflexo moldado pelo tempo e que talvez eu não quisesse mais aquilo.

Dentro da subcultura gótica encontrei liberdade para me expressar, ser quem realmente eu gostaria de ser, encontrei apoio e também uma grande força de influência feminista. Perante a essa decisão tive força e muito apoio, meu cabelo estava na cintura quando decidi raspar e doar todo ele, não sinto arrependimento e tão pouco vontade de deixá-lo crescer novamente, senti que agora sim sou quem realmente um dia busquei ser e hoje me expresso melhor, me sinto finalmente livre e a partir de agora quaisquer decisão que tenho sei que não será por regras ou preceitos sociais."

Essa ideia da quebra dos padrões, parece ser o ponto mais comum entre as meninas que conversei. Acompanhem os relatos:


 Carolina Ribeiro: "Raspar a cabeça foi algo que eu sempre quis fazer, mas claro, nunca tive coragem. Em 2017 eu comecei a cortar meu cabelo bem curto, até que decidi: estava na hora de raspar, era naquela hora ou nunca. Por que raspar a cabeça? Eu estava num processo intenso de desconstruir a ideia de feminilidade e adotar uma estética que fosse condizente com meu modo de pensar, o que também incluía reduzir a maquiagem, o excesso de acessórios e certos tipos de roupas. Por ser uma mulher gorda, sempre ouvi que cabelo curto não combinava, porque evidencia o rosto (como se isso fosse uma coisa ruim). Talvez por esse motivo nunca encontrei muitas inspirações para raspar a cabeça. Então tomei coragem e eu mesma raspei em casa. Todos estranharam e muitos não entendiam minhas motivações, mas eu me senti liberta e maravilhosa. Chamava atenção? Muita! Ainda mais porque também deixei de usar maquiagem todos os dias, então muitas pessoas me perguntavam se eu estava doente. A sociedade ainda não aceita muito bem uma mulher que não performa feminilidade, infelizmente. Mantive a cabeça raspada durante 1 ano aproximadamente e só comecei a deixar crescer novamente por questões de trabalho. Embora a área da educação não exija abertamente, é notório o estranhamento de pais e alunos."


Lívia Stark: "Meu nome é Lívia, tenho 39 anos e sou professora de Arte da rede pública. Cabelo sempre foi algo que fez parte da minha mente criativa desde criança. Sempre quis ter penteados diferentes, cores diferentes... Tive como "modelo de beleza" os tipos considerados alternativos. E desde criança eu quis ter um cabelo curto e bem colorido, como o da Annie Lennox na época do Eurythmics. E sempre teve aquela história do "cabelo curto é cabelo de homem". Não ligava, queria porque queria. Mas por ser criança, obviamente não tive autorização pra cortar o cabelo ao meu gosto. Só tive essa liberdade aos 18 anos, e ainda fui escondida da família! Todo mundo achava que, por ser gorda, nenhum corte combinava com meu rosto, muito menos um curtíssimo. Mas não foi nada radical, foi um modesto chanel. Foi o que bastou pra eu me libertar do medo do julgamento alheio. A cada ano, o corte diminua um pouco. Porém, na primeira vez que raspei a cabeça, estava passando por muita pressão psicológica na faculdade. Surtei igual a Britney! Mas isso mudou minha vida. Crescemos num meio influenciado pela mídia e pelo machismo...e quando a cidade onde a gente mora tem ares de interior, a cabeça das pessoas não está aberta para coisas tão simples como "cada um cuide da própria vida" e as pessoas te olham feio se você foge do padrão. Eu diria que já nasci fora dele. Com o passar dos anos, a gente vai percebendo como algumas coisas simples são libertadoras. Recentemente voltei a raspar a cabeça mas sem nenhum fator estressante por trás desse ato, apenas pelo prazer de ser livre. Vi imagens de mulheres maravilhosas de cabeça raspada, totalmente desapegadas e resolvi que dessa vez rasparia a cabeça por que queria um descanso pra minha beleza! Sim! Pois cuidar de cabelo cansa! Querer ter cabelo de comercial cansa! Ouvir que homem não gosta de mulher de cabelo curto cansa! Comecei a ver beleza numa pessoa que antes odiava a própria imagem. Senti o alívio de não ter que acordar mais cedo só pra arrumar o cabelo num penteado aceitável socialmente. Jamais questionei a feminilidade de ninguém por causa do comprimento do cabelo e estou ainda mais certa disso agora, que desfilo alegremente com minha cabeça raspada, colorida, pelo trabalho. E não é por ser professora de arte que isso ficou mais fácil. No meu ramo tem pouca gente que foge do padrão. E muita gente fala que eu sou corajosa por ter raspado a cabeça... talvez eu seja, já que muita gente ainda se submete ao gosto alheio em vez de ser feliz. Como dito antes, aqui, no interior do Brasil, as pessoas ainda me olham feio. Devem morrer de vontade de perguntar que doença eu tenho! Raspar a cabeça é um vício! É prático demais viver assim, acordar e já estar pronta! E quando começa a crescer um pouco mais o cabelo, já corro pra aparar! Mas a melhor parte é a liberdade. Sou livre pra ser como eu quiser, pois o que os outros pensam sobre meu cabelo não me importa mais."

Jenifer Pino Da Silva:

"A ideia de raspar a cabeça me veio após decidir tatuar a cabeça toda, já não gostava de ter cabelo e seguir padrões de beleza, pois pensava toda mulher tem sua própria beleza.

E é dessa beleza incomum que quero ter e tenho hoje em dia, pois me amo assim, nem liguei para o que iriam falar, queria mais me sentir bem mesmo que fosse careca. 

Ser uma mulher careca já é (nossa que absurdo) ainda mais se for tatuada e diferente perante a sociedade é uma coisa que sempre quis fazer que era não mais cabelo, me sinto mais eu e maravilhosa todos os dias."

Como vimos, as motivações são diferentes, mas o importante neste processo todo é que a mulher tenha a liberdade de escolha sobre seus atos e que não se sinta mal ou culpada por não estar seguindo um padrão sobre como é esperado que as mulheres aparentem. 

Cabelo cresce, é verdade. E algumas vezes o processo de crescimento não é fácil, mas tenho certeza que quem passa pelo processo de raspar os cabelos consegue enfrentar muito melhor as complexidades relacionadas às construções da feminilidade da mulher na sociedade.



E você, já raspou os cabelos? 
Considera fazer isso algum dia? 

Conta sua história pra gente!



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13 de fevereiro de 2018

Cabelo Cor de Fogo (Fire Hair, Red Flame Hair)

Parece que os cabelos cor de fogo viraram a moda capilar do momento, ao menos aqui no Brasil. Nos últimos meses diversas pessoas de diferentes segmentos apareceram com seus fios coloridos com tais tonalidades. Mas vocês sabem de onde surgiu essa combinação de amarelo e vermelho???

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Dele mesmo, David BowieO músico adota o visual quando assume sua última persona, The Thin White Duke, em meados de 1974. Bowie surge com o cabelo descolorido em toda parte da frente, puxando o restante num tom avermelhado que depois desbotava para o laranja. Nos discos Young Americans, Station to Station e Low, o primeiro da trilogia de Berlim, pode ser visto a coloração. Nessa fase, passava por transições decisivas tanto na vida profissional quanto privada, entre elas o divórcio com Angela e a luta contra o vício em cocaína.

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Entrevista para Dick Cavett em 1974.

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Bowie por Steve Shapiro.

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Concerto em Londres, 1976.

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Discos: Young Americans, Station To Station e Low.

Em 1976 é lançado o filme "O Homem que caiu na Terra" (The Man Who Fell to Earth) baseado no livro homônimo de Walter Tevis, da qual o músico estreia como ator protagonizando um alienígena que faz fortuna para tentar salvar seu mundo, porém havendo imprevistos nos seus planos. Esse é um dos momentos mais icônicos quando se relembra o cabelo cor de fogo.



De lá para cá, a forma de pintar foi-se desenvolvendo em artistas de diferentes gerações, acompanhando a moda da época. Atualmente, encontra-se o tanto estilo original de Bowie, como outras versões, trocando a cor vermelha pelo laranja, fazendo a pintura em mechas e o mais recente "fire ombré hair", onde a raiz é pintada de vermelho, o comprimento de laranja e a ponta de amarelo.


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Cyndi Lauper em 1985.

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Grunge Girls: Miki Berenyi e Jennifer Finch.

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Shirley Manson em 1994.

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Geri Halliwell nas Spice Girls com versão mechas, típico dos anos 90.

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Milla Jojovich em O Quinto Elemento de 1997. No filme o laranja é usado no comprimento.

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Propaganda Vidal Sassoon de 2001.

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Nos anos 2000, Hayley Williams adotou os tons de fogo com força.

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Essa também é a coloração favorita de Megan Massacre, que chegou a vir assim ao Brasil.

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Lindo penteado retrô quando Megan posou para Pretty Attitude.

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Punk e sua versão moicano. Belíssimo!

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O lindo neon da brasileira @maia_thais_

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Corte skinhead de @codyfrostmusic@xotiinaxox.

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Fire Ombré Balayage Phoenix Hair do cabeleireiro Guy Tang.

Em 2016, data de falecimento do Bowie, pode ter ocorrido o contexto que ajudou a impulsionar a moda vigente. Na verdade, demorou para ganhar força esse retorno. O interessante é que uma coloração feita há mais de quarenta anos mostra o quanto estava a frente de seu tempo ao permanecer moderno ainda hoje. 

E aí, já sabe qual estilo vai adotar?



Autoria: Idealização, texto e curadoria de imagens: Lauren Scheffel


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10 de junho de 2017

Breve história do penteado Colmeia (beehive hairstyle)

Margaret Vinci Heldt ficou conhecida mundialmente por ser a "criadora" do cabelo beehive, ou penteado bolo de noiva na nossa tradução. A americana que tinha origem italiana desde cedo mostrou habilidade com os fios. Em 1954, venceria o concurso National Coiffure Championship em Michigan. O prêmio traria renome ao trabalho da cabeleireira e de seu salão, o Margaret Vinci Coiffures, localizado em Chicago.

Com evidência no mercado de beleza, anos depois, surgiria o convite da revista Modern Beauty Shop - hoje, Modern Saloon - pedindo que a hair designer criasse o novo look da década. "Nada aconteceu desde o twist francês, o pageboy e o flip. Eles me disseram: "você precisa vir com algo diferente", revelou ao jornal Chicago Tribune. E assim, em Fevereiro de 1960, estreava na publicação o cabelo beehive.

Ícone contemporâneo, Amy Winehouse ostenta seu famoso beehive. 

A inspiração do penteado veio de um pequeno chapéu preto de veludo, um modelo fez, que tinha uma fita vermelha e duas decorações nas bordas que pareciam abelhas. O cabelo seria criado numa noite enquanto a família dormia. Margaret desceu as escadas de sua casa, colocou uma música e começou a trabalhar no manequim. No dia que apresentou oficialmente para revista, a cabeleireira deu um toque final colocando um broche no cabelo da modelo. Quando um dos repórteres viu o resultado, falou: "Isso simplesmente se parece com uma colmeia (beehive). Você se importa se nós o chamarmos de colmeia?". Pronto, estava batizado o penteado!

Margaret Vinci Heldt segura a foto de sua criação.

O beehive consiste em envolver a cabeça em torno do movimento da coroa, rolando suavemente a "franja" na direção das orelhas. Seu formato é cônico e com uma leve ponta, literalmente uma colmeia, por isso a associação. É necessário muito laquê para segurá-lo firme. Margaret brincava dizendo que avisava as suas clientes que não se importava o que o marido fizesse do pescoço para baixo, contando que não as tocassem do pescoço para cima. O penteado era feito para durar uma semana, um lenço era enrolado em torno ao dormir para não bagunçar os fios.

A modelo Bonnie Strange, fotografada por Johannes Graf na 74 Magazine de 2012:
variação moderna do beehive.

No Brasil, o modelo ficou conhecido como bolo de noiva. Mesmo com o costume de se ver o penteado em festas, na época era usado no dia a dia também. Dizem que quando as mulheres iam ao cinema, sofriam retaliações de espectadores pois o penteado atrapalhava a visão de quem sentava atrás, com pedidos mal educados de que se retirassem do local.

Apesar de Margaret ser conhecida como a inventora, a verdade é que o estilo já era visto no final dos anos 1950. Com a cabeleireira ele teria ganhado o tamanho e a forma como conhecemos. O status chique foi coroado quando Audrey Hepburn aparece no filme "Breakfast at Tiffany", ou "Bonequinha de Luxo" (1961).


Priscilla Presley também é muito lembrada por seus cabelos naquela década.

Na própria década o cabelo já seria incorporado nas subculturas, provavelmente influenciado pelas bandas de garotas sessentistas:

The Velvelettes
60s-girl-band

Mary Weiss da The Shangri-Las
60s-girl-band

 The Marvelettes e Connie Francis
60s-girl-band-singer

Diana Ross (The Supremes) e  Aretha Franklin  60s-girl-band

e as cantoras Mary Wells,
60s-singer

Dusty Springfield, Dolly Parton e Mari Wilson.
60s-singers 

Conhecido pela maioria com o nome de beehive, alguns também o denominam de B-52, pois o penteado lembra o nariz do jato. Nos anos 1980, seria visto em diversas cores pela cantora Cindy Wilson do grupo homônimo. Na mesma fase, a personagem Elvira mostrava a cara dark do aplique, que tinha como referência as The Ronettes.
Do formato cônico em colmeia, o penteado sofre várias modificações, a mais comum delas é ter o cabelo penteado erguido para cima e para trás, versão simplificada do modelo original.

Quem não lembra dos penteados de Kate Pierson e Cindy Wilson do grupo B52´s?
singers
hairstyle

O beehive dark de Elvira e...
mistress-of-the-dark

... as musas inspiradoras The Ronettes.
1960s-girl-bands

Antes de ser pioneira da cena punk, Debbie Harry usou beehive ainda adolescente e posteriormente como atriz, no filme Hairspray (1988, John Waters). 


O cabelo de Kelly Osbourne se aproxima do colmeia original e
Katy Perry usa uma versão mais quadrada.

A punk Jordan em 1976 e Emily McGregor são exemplos do penteado sendo usado na cena.
jordan-emily-mcgregor

Tão raro quanto no punk é o beehive na estética gótica:
jen-theodora
à direita @jentheodora
 
As subculturas mais comuns de se ver o penteado são nas que possuem
referências ao passado, como na retrô e psychobilly.
@ludmilahouben

Desde a sua existência, o sucesso do penteado permanece ora no alternativo, ora no mainstream. Nos últimos anos, adquiriu status cult devido à Amy Winehouse. Naquele período o beehive aparecia muito no estilo clássico, à la Audrey Hepburn. Quando Amy surge com o visual, a cantora se encontrava numa fase super influenciada pelas girls bands dos anos 1960, citando constantemente as garotas The Shangri-Las, apesar do estilo que usava remeter mais às The Ronettes. Além do cabelo, o olho delineado de gatinho e batom vermelho já vinha de tal década.


O look virou marca registrada e como aquele estilo não era visto há muito tempo pela mídia, ficou no imaginário que o visual dela era único, mas na cena alternativa de Londres o cabelo sempre existiu para as que se identificavam com a moda retrô, a diferença é que não ficaram famosas como a cantora.
Amy revelaria: "Eu sou uma pessoa muito insegura. Sou muito insegura em como pareço. Sabe, eu sou música, não modelo. Quanto mais insegura me sinto, mais bebo. (...) E ao Tracy Trash, que faz meu cabelo, digo: 'Maior, maior!' - quanto mais insegura fico, maior tem que ser meu cabelo".

Quanto mais insegura, maior o beehive.

Sobre seu cabelo e os grupos musicais dos anos 1960

Em entrevista para extinta Fashion TV, a blogueira Tavi Gevinson, ainda adolescente​, descobre que Margaret não gostava nada da versão exagerada que Amy adotou do cabelo. A cabeleireira viveria até os 98 anos num asilo em Chicago, falecendo no dia 10 de Junho de 2016. Quantas estórias um penteado pode contar, não?


E você, gosta do penteado? Conta pra gente!



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